Como fazer para obter o máximo aproveitamento dos programas de treinamento? Essa questão recorrente em RH, marketing e vendas, é a mola propulsora dos esforços para inovar na linguagem, buscando técnicas e metodologias capazes de prender a atenção, reduzir as resistências, aumentar a compreensão e a retenção, proporcionando mudanças de atitude e comportamento nas equipes treinadas.
Nas
empresas que mantém programas continuados de treinamento existe a preocupação
constante de inovar na linguagem para não cair na mesmice dos modelos
tradicionalmente adotados em sala de aula. Mesmo as metodologias mais
participativas, como os treinamentos apoiados em técnicas dinâmicas
interativas, tornam-se previsíveis e se desgastam pela aplicação continuada,
tornando os programas de treinamento previsíveis e desinteressantes.
Quanto
mais desgastada a fórmula empregada, menor o índice de atenção e, consequentemente,
de retenção e assimilação dos conteúdos trabalhados.
A
velha fórmula da palestra – ou aula expositiva - é a que proporciona os mais
baixos índices de assimilação e compreensão, por dois motivos principais.
Primeiro porque propõe estimulação essencialmente lógico-racional, que com frequência
esbarra nas defesas psicológicas ou no baixo envolvimento emocional da
assistência. Segundo, porque se apóia essencialmente no estímulo auditivo,
subaproveitando os outros potenciais comunicativos do ser humano.
Alguns
expoentes da consultoria têm-se esforçado para trazer alguma renovação a esse
gênero de treinamento, desenvolvendo palestras performáticas e transbordantes
de emoções, que vão das lágrimas às gargalhadas. Apesar de todo esse esforço,
porém, o que se observa é que tais estímulos são de curta duração, desfazendo-se
ao fim de alguns dias. Ao se aferir o aproveitamento, em geral se constatam baixos
índices de compreensão e retenção. Outra limitação desse gênero é que em geral
cada palestrante desenvolve duas ou três fórmulas, que vai repetindo ano após
ano. Para quem vê pela primeira vez é interessante, mas perde grande parte do
encanto quando a experiência se repete.
Os
treinamentos com utilização de metodologia vivencial são em geral mais
criativos e trabalham melhor os conteúdos emocionais, porém, depois de uma
série de treinamentos para o mesmo grupo, esse método torna-se previsível,
perdendo parte do seu efeito. Outras limitações são a restrição ao número de
participantes – trabalha-se, em geral, com grupos de 15 a 25 pessoas – e o
tempo demandado pela atividade vivencial. Tais cursos precisam de carga horária
extensa para trabalhar conteúdos restritos em pequenos grupos, implicando em
inúmeras repetições para treinar um número maior de colaboradores. Entretanto,
apesar dos custos elevados com horas paradas e infraestrutura para inúmeras
repetições, essa metodologia geralmente apresenta bons índices de aproveitamento.
Nesse
contexto carente de instrumentos inovadores surgiu o teatro-treinamento, uma
aplicação da linguagem artística com finalidade utilitária. Arte milenar, o
teatro é uma linguagem universal, capaz de tratar – e retratar em cena –
qualquer conteúdo, seja ele moral, técnico ou filosófico. Em minhas peças já
desenvolvi temas como qualidade, atendimento, vendas, estratégia, liderança, gestão
de crise, motivação e qualidade de vida.
Mais
do que ao fruir estético, o teatro-treinamento se destina a ensinar algo à plateia.
Mais do que divertir, busca transmitir conceitos e estimular a formação de
mentalidade em torno das questões propostas em cena, resultando em mudanças de
atitude e comportamento.
De
onde vem a enorme capacidade que o teatro tem de, através da ação vivida pelas
personagens, envolver emocionalmente e magnetizar a assistência?
Esse
envolvimento se dá através do fenômeno da identificação psicológica.
Identificando-se com o drama vivido pelas personagens em cena, o espectador se
associa a elas, vivenciando solidariamente suas experiências existenciais. Essa
vivência emocional compartilhada tem por efeito a queda das barreiras
psicológicas, de modo que o indivíduo torna-se totalmente acessível às ideias e
emoções da cena. Trabalhando com índices mínimos de resistência, a peça de
teatro proporciona comunicação isenta de ruídos e barreiras, com alta receptividade.
O resultado será a total assimilação dos temas abordados, a compreensão dos
aspectos humanos envolvidos e índices de retenção mnemônica incomparáveis, pois
a informação veiculada pelo teatro viaja pela via tripla da audição, da visão e
dos sentimentos.
Outra
vantagem do teatro como linguagem para treinamento é o seu espantoso poder de
síntese, que permite processar grandes massas de informação em curto espaço de
tempo. Em uma peça com duração de uma hora é possível trabalhar conteúdo
equivalente a vinte horas de treinamento vivencial ou quatro horas de palestra,
com índices superiores de assimilação. Além disso, o teatro permite que se
trabalhe com grandes grupos sem perda de aproveitamento, minimizando o
investimento em horas de paralisação na atividade e reduzindo o custo percapita
do treinamento.
Evidentemente,
cada metodologia tem o seu lugar e cumpre um papel importante dentro do
contexto de treinamento. Nesse universo, porém, o teatro-treinamento surge como
um novo alento, capaz de romper com o tédio e a mesmice, racionalizando custos
e multiplicando resultados, funcionando isoladamente ou inserindo-se
harmoniosamente numa programação integrada com as linguagens tradicionais.
Alberto Centurião (HTTP://albertocenturiao.blogspot.com.br – albertocenturiao@gmail.com)
É
consultor, autor e diretor de Teatro-treinamento.
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