Pois é, meu amigo, minha amiga, esse é um sentimento que por vezes nos invade a alma e que, se não lhe dermos atenção, pode causar grandes estragos. Poderia abordá-lo aqui por perguntas, como fazemos habitualmente em Coaching. Entretanto, desta vez parece-me mais adequado valermo-nos das palavras de um poeta. Carlos Drummond de Andrade, um dos mais geniais poetas da língua portuguesa. Porque o poeta tem um jeito peculiar de colocar suas reflexões e expressar seus sentimentos, convidando o leitor a tornar-se-lhe companheiro de viagem em seu mergulho interior.
Refiro-me ao poema “Mãos Dadas”,
página do livro “Sentimento do Mundo”,
talvez o mais introspectivo da extensa bibliografia do autor.
Neste belíssimo poema, Drummond faz uma declaração de fé na vida e
sinaliza razões para viver e estar no mundo.
O poeta começa dizendo o que não será:
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
O que significa para você,
meu caro coachee, ser o poeta de
um mundo caduco? Seria voltar sua atenção para um mundo antiquado, que não
faz mais sentido? Lamentar-se por viver numa sociedade ultrapassada, classista,
moralista e preconceituosa? Seria, talvez, fixar seu olhar crítico sobre todos
os vícios, desvios e transgressões que ofendem o seu código de valores? Ou se
indignar com todas as injustiças que ocorrem, mundo afora? Seria alimentar sua
mente com aquela catadupa de crimes violentos dos noticiários policiais? Seja
qual for o mundo caduco de sua predileção, o que sabemos é que ele é caduco: maluco, doido, vencido,
ultrapassado, incômodo e desagradável; um mundo inconveniente, que já não serve
mais. E que, por isso mesmo, não merece a atenção demorada do poeta, que não
perde tempo a demorar-se no passado.
Também não cantarei o mundo futuro, emenda o poeta. E você, meu caro coachee, tem dedicado muito do seu tempo
a tecer fantasias sobre o futuro? Por acaso esse futuro projetado em seus
devaneios tem-se mostrado assustador, ameaçador ou angustiante?
Depois de dizer o que não será, o poeta diz onde e como está.
Estou preso à vida e olho meus
companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Depois de dizer o que não será, o poeta diz onde e como está.
Preso à vida, rodeado de companheiros, que, embora taciturnos (característica
de quem fala pouco; calado, de mau humor), nutrem grandes esperanças. O poeta
não está só. Ele tem companheiros, que, com ele, compartilham a realidade;
aquelas circunstâncias de vida em sociedade à qual estão presos. E você, coachee?
Tem-se sentido só ultimamente? Se deixasse de fixar o futuro ou o passado e
olhasse à sua volta, o que veria? Talvez também tenha companheiros de viagem,
que, como você, enfrentam dificuldades. Talvez não sejam as melhores pessoas do
mundo, como também os companheiros do poeta não se encontravam no melhor dos
humores. Estão taciturnos, mas... nutrem grandes esperanças.
Vejamos o relato pessoal do poeta:
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
O poeta se defronta com uma realidade enorme e
desafiadora, seus companheiros também têm problemas, porém... existe esperança.
Drummond sabe que o presente é tão grande, reconhece a distância e as
ausências, mas também sabe que não está sozinho, porque conhece o poder da
solidariedade. Sabe o quanto é importante estar junto, manter-se em contato,
dar as mãos em apoio recíproco e sustentação afetiva.
E você, coachee? Tem cultivado a sua rede de sustentação afetiva? Tem mantido contato com os amigos? O que aconteceria se você abrisse o coração para seus companheiros de viagem? Se você pedisse ajuda, assim com fez agora, o que poderia acontecer? E se você estendesse as mãos a alguém? Pedir e oferecer ajuda, por que não?
Depois de propor que nos estendamos as mãos, num
gesto de fraternidade que nos fortalece a todos, o poeta reafirma o que já não
pretende ser e as vias que não pretende percorrer. Despede-se de todos os escapismos para
encarar a realidade da vida. Ao despojar-se das fantasias românticas
e desvencilhar-se das dependências, químicas ou psicológicas, deixando o
passado passar em paz e reservando ao futuro o que lhe é de direito, o poeta
autoconsciente planta os pés na realidade, posicionando-se no presente, que é o tempo
em que a vida acontece.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
E você, Coachee? O que tem a ganhar – e a perder –
libertando-se das fantasias e dos escapismos para assumir total
responsabilidade por si mesmo, suas escolhas e decisões? O que aconteceria se
você assumisse o controle do seu destino?
E o poeta conclui com infinita sabedoria:
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes,
a vida presente.
A lição que nos ensina é que só existimos no
presente. O futuro é hipótese, o passado é memória... O presente é a vida que
vivemos. As pessoas com quem convivemos são parte essencial dessa realidade.
Pode não ser o melhor, mas é o que temos, é o que tem pra hoje. Trabalhar com essa matéria – o tempo, as pessoas – é fazer
algo que objetivamente pode mudar nossa vida.
Se tomasse algumas decisões e mudasse suas atitudes, isso poderia mudar a sua vida em alguns aspectos importantes? E, se a vida mudasse, você teria vontade de viver?
Qual seria a principal mudança,
aquela que teria o poder de desperta em você a vontade de viver?
O que você pode fazer agora – que dependa só de
você – para dar o primeiro passo em direção à mudança desejada? Como será...?
∞8∞
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